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Repórteres sem Fronteiras (http://www.rsf.org)
Comunicado de imprensa

21 de Maio de 2010

GUINÉ-BISSAU

“O nosso país deve ser mais firme com os mafiosos que intimidam os jornalistas”: testemunho de um jornalista agredido devido a artigos sobre o narcotráfico

No dia 15 de Maio de 2010, o director e proprietário do semanário Diário de Bissau, João de Barros, foi agredido nas instalações do seu jornal por um empresário próximo dos narcotraficantes. Antes de abandonar o local, o agressor, acompanhado pelo seu motorista, danificou o conjunto do material informático da sala de redacção da publicação.

Dias depois do incidente, Repórteres sem Fronteiras publica o testemunho deste pioneiro da imprensa independente em Bissau, no qual descreve o desenrolar dos acontecimentos.

“A agressão de que foi vítima João de Barros não é um acto isolado e insignificante. É a mais recente manifestação dos tabus que afectam a imprensa local e do clima asfixiante em que os jornalistas desta antiga colónia portuguesa exercem a sua profissão. Os poucos jornalistas que violam a lei do silêncio e se atrevem a denunciar os narcotraficantes e os seus cúmplices, sejam eles civis ou militares, expõem-se a sérias represálias, ainda para mais num ambiente de total impunidade. Pedimos às autoridades guineenses que persigam os autores deste acto de violência”, declarou Repórteres sem Fronteiras, recordando que pelo menos dois jornalistas foram obrigados a sair do país em 2009, aos quais se juntou outro já em 2010.

Em Novembro de 2007, num relatório de missão intitulado “Cocaína e golpe de Estado: fantasmas de uma nação amordaçada”, que analisava as ameaças permanentes infligidas aos jornalistas da Guiné-Bissau pelos narcotraficantes e os seus cúmplices, Repórteres sem Fronteiras solicitara às forças armadas guineenses a máxima vigilância para que os autores de ameaças e de actos de intimidação fossem identificados e punidos. Este pedido não foi acompanhado por medidas eficazes.

A agressão e destruição das instalações

A 15 de Maio, recebi um telefonema do empresário Armando Dias Gomes, informando-me de que estava à minha espera nas instalações do meu jornal.

Não contava passar pelo escritório nesse dia, mas acabei por decidir lá ir. Quando abri a porta, vi o empresário acompanhado pelo seu motorista. Começou de imediato a insultar-me e a dirigir-me ameaças de morte. Dois dos jornalistas com os quais trabalho diariamente, que também estavam presentes, foram igualmente insultados e ameaçados.

Sei que a agressão se deve à publicação no meu jornal de uma série de artigos sobre o narcotráfico na Guiné-Bissau. O último, da autoria do jornalista Adulai Indjai, parece ter provocado a ira do empresário. Intitulado “Guiné-Bissau, o suposto Narco-Estado”, este trabalho de investigação debruçava-se sobre as vítimas directas dos narcotraficantes no nosso país, embora sem citar nomes.

Armando Dias Gomes, que é um amigo chegado dos narcotraficantes, explicou-me que se sentia visado pelo artigo e que não queria voltar a ler no meu jornal informações sobre os narcotraficantes e as actividades a que estes se dedicam.

Foi então que nos envolvemos fisicamente. Não fiquei ferido, mas tenho uma marca no pescoço porque os agressores tentaram estrangular-me. Também atacaram violentamente o material da redacção. Deitaram ao chão uma dezena de computadores, os discos duros e a impressora que utilizo para o funcionamento do jornal. A minha empresa está paralisada e não podemos trabalhar.

O futuro do jornal

Prefiro fazer de conta que não aconteceu nada. Não vou fazer caso desta agressão. Há vinte anos que sofro ameaças por parte dos políticos deste país. Dois dos meus jornais, O Expresso Bissau e O Correio da Guiné-Bissau, foram encerrados nos anos 90 por razões políticas. Já apresentei queixa contra o empresário e estou à espera do julgamento. Os meus dois agressores foram detidos durante nove horas pela Polícia Judiciária de Bissau, mas depois infelizmente foram soltos, suponho que devido à pressão dos narcotraficantes.

Agora o que mais desejo é substituir o mais depressa possível o equipamento informático para poder retomar a impressão e a publicação do meu jornal.

Aproveito esta entrevista para lembrar que o nosso país deve ser mais firme com os grupos de mafiosos que tentam intimidar os jornalistas. A justiça e o poder político têm que ser mais severos a fim de colocar um ponto final à impunidade de que gozam os cúmplices dos narcotraficantes na Guiné-Bissau.

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GUINÉE-BISSAU

"Notre pays doit être plus ferme avec les mafieux qui intimident les journalistes" : Témoignage d'un journaliste agressé pour des articles sur le narcotrafic

Le 15 mai 2010, le directeur de publication et propriétaire de l'hebdomadaire Diário de BissauJoão de Barros, a été agressé dans les locaux de son journal par un entrepreneur proche de narcotrafiquants. Avant de quitter les lieux, l'agresseur, accompagné de son chauffeur, a endommagé l'ensemble du matériel informatique installé dans la salle de rédaction du journal.

Quelques jours après l'incident, Reporters sans frontières publie le témoignage de ce pionner de la presse indépendante à Bissau, qui revient sur le déroulement des événements.

"L'agression dont a été victime João de Barros n'est pas un acte isolé et insignifiant. Elle est une nouvelle manifestation des tabous qui frappent la presse locale et du climat suffoquant dans lequel exercent les journalistes de cette ancienne colonie portugaise. Les quelques journalistes qui brisent l'omerta et osent dénoncer les narcotrafiquants et leurs complices, civils et militaires, sont exposés à de graves représailles, d'autant plus que règne l'impunité. Nous demandons aux autorités bissau-guinéennes de poursuivre les auteurs de ces violences", a déclaré Reporters sans frontières qui rappelle que deux journalistes au moins ont été contraints de quitter le pays en 2009 et un déjà en 2010.

En novembre 2007, dans un rapport de mission intitulé "Cocaïne et coup d’Etat, fantômes d’une nation bâillonnée", dénonçant la menace permanente imposée aux journalistes de Guinée-Bissau par les narcotrafiquants et leurs complices, Reporters sans frontières avait notamment demandé aux forces armées bissau-guinéennes de veiller à ce que les auteurs de menaces ou d'actes d'intimidation soient identifiés et sanctionnés. Cette requête n'a pas été suivie par des mesures efficaces.

L'agression et le saccage des locaux

J'ai reçu le 15 mai dernier un coup de téléphone de l'entrepreneur Armando Dias Gomes, me disant qu'il m'attendait dans les locaux de mon journal.

Je n'étais pas censé aller au bureau ce jour-là, mais je me suis quand même décidé à me rendre sur place. Lorsque j'ai ouvert la porte, l'entrepreneur se trouvait à l'intérieur avec son chauffeur. Il a commencé à m'insulter et à proférer à mon encontre des menaces de mort. Deux des journalistes avec lesquels je travaille quotidiennement, qui étaient présents au moment de l'incident, ont également été insultés et menacés.

Je sais que l'agression est due à la parution dans mon journal de plusieurs articles concernant le narcotrafic en Guinée-Bissau. Le dernier en date, celui du journaliste Adulai Indjai, semble avoir provoqué les foudres de l'entrepreneur. Intitulé "Guinée-Bissau, un supposé narco-Etat", cet article d'investigation traitait des victimes directes des narcotrafiquants dans notre pays, mais ne citait aucun nom.

Armando Dias Gomes, qui est un ami proche de narcotrafiquants, m'a expliqué qu'il se sentait visé par cet article et qu'il ne voulait pas voir paraître dans mon journal des informations sur les narcotrafiquants et le commerce auquel ils se livrent.

Nous nous sommes battus. Je n'ai pas été blessé physiquement, mais je conserve une marque au niveau du cou car mes agresseurs ont cherché à m'étrangler. Ils s'en sont également pris violemment au matériel. Ils ont jeté par terre la dizaine d'ordinateurs, les disques durs ainsi que l'imprimante dont je dispose pour faire fonctionner mon journal. Mon entreprise est paralysée et je ne peux plus travailler.

L'avenir du journal

Aujourd'hui, je fais comme si rien ne s'était passé. Je ne m'arrête pas à cette agression. Vous savez, cela fait plus de vingt ans que je suis menacé par les politiciens de mon pays. Deux de mes journaux, L'Expresso Bissau et Le courrier de Guinée-Bissau, ont déjà été fermés dans les années 1990 pour des raisons politiques. J'ai porté plainte et j'attends le procès. Mes deux agresseurs ont été détenus pendant neuf heures dans les locaux de la police judiciaire de Bissau, puis ils ont malheureusement été relâchés, sous la pression des narcotrafiquants je suppose.

Je souhaite aujourd'hui récupérer le plus rapidement possible du matériel informatique me permettant d'imprimer et de publier de nouveau mon journal.

De plus, je profite de cette interview pour rappeler que notre pays doit être plus ferme avec les groupes de mafieux qui tentent d'intimider les journalistes. Il faut que la justice et les pouvoirs politiques soient plus durs afin de mettre fin à l'impunité dont jouissent les complices des narcotrafiquants en Guinée-Bissau.

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GUINEA BISSAU

“Our country needs to be firmer with the criminals who intimidate journalists” – editor who was attacked over articles about drug trafficking


Diário de Bissau owner and publisher João de Barros, a pioneer of independent journalism in Bissau, was attacked inside the newspaper’s premises on 15 May by a businessman he believes to be linked to drug traffickers. Before leaving, the businessman and his driver smashed all the computers in the newsroom.
 
Reporters Without Borders is today publishing De Barros’ account of this incident and the background to it.
 
“This attack on De Barros is not an isolated and insignificant act,” Reporters Without Borders said, pointing out that at least two journalists were forced to flee abroad last year and another one already this year. “This is just the latest example of the taboos imposed on the local press and the repressive climate in which journalists operate in this former Portuguese colony.”
 
The press freedom organisation added: “The few journalists who dare to defy the code of silence and denounce the drug traffickers and their civilian and military accomplices risk serious reprisals, all the more so as impunity prevails. We urge the authorities to bring those responsible for this violence to justice.”
 
In a November 2007 report entitled “Cocaine and coups haunt gagged nation” about the constant threat to Guinea-Bissau’s journalists from drug traffickers and their accomplices, Reporters Without Borders asked the armed forces to ensure that those responsible for these threats and acts of intimidation were identified and punished. No effective measures were taken.
 
Assault and ransacking of newsroom
 
I received a phone call on 15 May from the businessman Armando Dias Gomes saying he was waiting for me at my newspaper.
 
I was not supposed to go to the office that day but I decided I would go all the same. When I opened the door, I found Dias inside with his driver. He began to insult me and make death threats against me. Two of the journalists I work with every day, who happened to be there during the incident, were also insulted and threatened.
 
I know this attack was due to the fact that my newspaper had published several articles about drug trafficking in Guinea-Bissau. It was the latest, by reporter Adulai Indjai, that seems to have prompted Dias’ anger. Headlined “Guinea-Bissau, a supposed narco-state,” this investigative article focused on the direct victims of drug traffickers in our country but did not name any names.
 
Dias, who is a close friend of the drug traffickers, told me he felt targeted by this article and that he did not want to see any reports in my newspaper about drug traffickers and the business they are involved in.
 
We fought. I was not physically injured but I have a mark on my neck because my assailants tried to strangle me. They also attacked our equipment. They threw the ten or so computers, the hard disks and the printer to the ground. This was the equipment I used to run my newspaper. My business is now paralysed and I can no longer work.
 
The newspaper’s future
 
I am behaving as if nothing happened. I am not going to be stopped by this attack. I have been threatened by politicians in my country for more than 20 years. Two of my newspapers, O Expresso Bissau and O Correio da Guiné-Bissau, were already closed in the 1990s for political reasons. I have filed a complaint and I am awaiting the trial. My two assailants were held for nine hours at the headquarters of the Bissau judicial police. But then they were unfortunately released, under pressure from the drug traffickers, I suppose.
 
I would now like to recover my computer equipment as soon as possible so that I would be able to resume printing and publishing my newspaper.
 
Finally, I take advantage of this interview to point out that our country should be firmer with the criminal organisations that try to intimidate journalists. The courts and the political authorities must act with more determination in order to end to the impunity enjoyed by the accomplices of the drug traffickers in Guinea-Bissau.



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Ambroise PIERRE
Bureau Afrique / Africa Desk
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